Amar é perder
O imprevisível
acontece.
Despontamos
para a vida, que, imperativamente, se impõe nos escaninhos das nossas fímbrias.
Sonhamos, nas
conversas sustentadas, nas interrogações que a nossa ignorância demonstra, em
busca de respostas. Nem sempre são tão aceitáveis, como nos querem fazer crer.
Idealizamos alternativas outras para os dados que conhecemos, para as
pressupostas saídas, que — (supomos,,,) —, são tão evidentes perante as
situações e/ou relações, que nos parecem menos certas.
Nada disso se
desenrola como queremos, ou forjamos, para que se torne uma realidade outra da
que nos cerca.
A sociedade
coarcta-nos realizações, que pairam ao alcance da alma, das mãos, e das
sensações.
Já nada é para
sempre.
Que prazer
mórbido existe na maioria das pessoas em destruir sonhos, em gerar apatias e
fugas à nossa premente necessidade, (como um imperativo categórico), de sermos
minimamente felizes.
Acontece, por
tal facto, haver tanta gente infeliz, ou, quando mais não seja, distante de si
mesma, adormentada pela certeza, vivenciando dois mundos diversos, desagregados
um do outro, alimentando lonjuras, sofreando fruições, esquecendo — (ou crêem
que assim é) — que, se cá estamos, temos que proporcionar, a nós e aos outros,
a possibilidade de sermos completos, felizes, razão primordial para se querer à
vida, para lutarmos por ela, para a sentirmos integralmente, bailando no olhar,
e num sorriso sempre presente.
A vida é
simples, e, no entanto, só a complicamos em descrenças, desavenças e maus
amores. Entregamo-nos a eles com afinco. Podíamos aproveitar todos esses
esforços muito mais proficuamente. Termos noites tranquilas e repousadas, em
prolongamento de sonhos, de imagens, que nos alegrariam veredas cerebrais.
Acordar num novo dia cada vez melhor — seríamos capazes de grandes e imediatas
resoluções, sem pensarmos no que se seguiria depois.
É disto que se
faz a maioria das relações, que, prática comum, nos dias que correm, descambam
em ruptura,violência, desconformidade.
Mas uma das
partes é a que mais sofre.
Marcas que o
tempo subsequente jamais apaga. Marcas que determinam que não possa, na maioria
das circunstâncias, haver redenção, ou, pelo menos, fazer-nos acreditar que há
uma porta, que um dia se poderá abrir para o caminho certo.
Já alguém
disse, — (Picasso?) — que “a vida é uma obra de arte em que não existe
borracha”.
Ramada,
04/04/2023, (00h:10’)
Ana Oliveira
Dias a.oliveiradias@gmail.com
Nota Avulsa:
Por problemas - (para mim demasiados) - com a transferência da comparticipação, desisti de participar na Antologia AMOR, PAIXÃO E CONSEQUÊNCIA, proposta pela editora brasileira Merari Tavares. Aqui fica, em arquivo, o que produzi na altura.
Ramada, 06/07/2023