segunda-feira, 20 de agosto de 2007

"Água mole em pedra dura..."

Poixxx... Foi assim, sem jeito, e dada a insistência, ou persistência, no/do convite, aqui estou. Não vou contar "estórias" de desempoeirar baús - tenho poucas, e as que tenho guardo-as para mim, não por egoísmo, mas porque foram vividas numa extrapolada vivência de menina, assumidamente demasiado adulta para a minha idade, demasiado racional, até - passavam-me ao lado estas malandrices que se faziam num tempo próprio de adolescência. As minhas "estórias" têm a ver com mortes, guerra, prisões, hospitais militares, acções da Legião de Maria - são enquadramentos bem diferentes, e pouc(a)/(o)s tiveram o arrojo, a desmesura, a coragem de ir mais além, desbravar outras realidades que não as comezinhas e naturais de gente que se quer jovem, fresca, livre para viver cada minuto de cada vez. Este recanto é p'ra recordar o que de bom a vida nos proporcionou, no companheirismo, na vida académica - o João Neves deu o mote... Eu era, de certa forma, Maria-rapaz, mas estava bem longe destas artimanhas - "tadinha" de mim que, (próprio da idade e da minha condição de rapariga, imbuída de preceitos familiares e religiosos), defendia com unhas e dentes uma postura, que se pretendia correcta e afinadinha?!... Era muito "limpinha", [de pensamento(s) e de boca] - hoje já não é assim... Costumo dizer que há muito ultrapassei a velocidade da luz e do som: quem gostar, assim me tem; quem não gostar, esqueça, "ponha à borda do prato"... Depois... ah! Depois?!... Tenho dois sobrinhos, que em tudo se assemelham ao que eu era, seccionados cada um deles por metades de mim - estar com eles é reviver um "cóchinho" de mim, nesse tempo longínquo, mas sempre tão perto... São as minhas recordações felizes que me têm ajudado a continuar a viver - por cá, enchemo-nos de mágoas, de cicatrizes que, mesmo os "maus tempos" de lá, nunca me fizeram... Mas, pronto: é preciso manter a vela acesa até que a VIDA queira - o TUDO é nada, e eu procuro sempre, (e ainda, e "malgré tout"..), o ABSOLUTO, que o INFINITO é já aí... Ana Dias (a Mofina Mendes do LAGG)

2 comentários:

fernanda neves disse...

Memórias
Tenho resistido em colocar a minha participação neste espaço. Mas ... tenho um mano muito persistente ... o João Neves e ... devo-lhe este cantinho. À Ana Dias, também.
Bem, neste momento, só me vem à memória uma certa casa, numa rua ampla e linda da qual já não me recordo o nome, em Nampula, que me faz sentir na pele uma suave sensação de paz e alegria. Ali, eu, o meu mano e os meus pais fomos felizes. Não éramos abastados, como muitos aqui, neste país imaginam que eram todas as pessoas que viviam naquelas terras. Mas éramos muito felizes! A mamã, grande mulher, mãe e dona de casa, mulher de pulso rígido, mas sempre atente ao nosso bem-estar. O pai, a meiguice em pessoa, nosso cúmplice, paciente e ... a pessoa que mais amor soube dar neste mundo. O mano, traquinas, sempre envolvido em embrulhadas que eu e o nosso paizão, procurávamos encobrir da mãe guerreira. Eu, uma menina feliz.
Mesmo ao lado, grandes amigas - a Lena Rocha, minha companheira desde a 4ª classe, cúmplices de tantas histórias! Lena, adoro-te! A Gina, a Belinha com aqueles olhos lindos imparáveis! A D. Alice, como eu a admirava, por ser uma mãe doce, lutadora, amiga!
Recordo as noites de conversa no passeio junto à nossa casa.
Vejo-me a sair de casa de manhazinha, bata branca com o emblema do LAGC, a mastigar o pau de quinhenta com um bocado de fiambre dentro!
E o meu liceu! As raparigas no 1º andar a mirarem os rapagões lá em baixo no recreio! E o meu 5º ano! O primeiro ano misto! Recordam-se, finalistas de 69/70? Ana Maria, aqueles tempos são muito bons de recordar! Ninguém nos tira aquelas memórias!
Sabem, após 33 anos de estadia em Portugal, ainda há muitas noites que me parece ouvir o som dos tambores ao longe!
Pronto queridos amigos makuas, vou-me embora, mas deixem-me dizer-vos que sinto muitas saudades de todos vós, da amizade, do convívio são sem televisão, dos cheiros, dos sons, das cores ... de tudo, meu Deus!
E sinto uma enorme tristeza de, após todos estes anos, ainda não ter conseguido voltar àqueles lugares que são a minha origem. Sabem, é que eu sou branca por fora, mas sempre preta por dentro, como dizem por aqui os portugas.
Mano, gosto muito de ti´, és um dos homens que mais admiro. Sabes com quem és parecido, não sabes?.
Um grande beijo de amor para todos

João Neves disse...
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